Sexta tive um sonho, como poucos nesta vida poderiam ter. Como ele começa?
Parte 1
Só lembro de muita fumaça...do coração acelerando e da perda dos sentidos...quando subitamente um estrondo como de tambores vindo do céu e o som de uma águia me despertam...vejo fogo, pedras, fumaça...e uma grande rocha distante...
Com uma espada na mão direita percebo que estou em trajes de guerreiro (concluo "-Sou um guerreiro...") dores pelo corpo denúnciam que estou muito ferido. De súbito um rugido me chama a atenção, havia mais alguém além de mim, me viro e vejo um vulto na fumaça, mas logo outro rugido me faz virar novamente e detrás das pedras surge um leão, as labaredas de fogo que rompiam entre as fendas na rocha não abalavam seu caminhar e apesar da fumaça o seu olhar vermelho sangue irradiava uma luz hipnótica que o tornava impossível não ser visto.
Me sinto dividir em dois e uma parte de mim se distancia(veja Parte 2) e apenas vê o que se segue, enquanto a outra, que fica, tudo sente. Logo o guerreiro se ajoelha e larga sua espada, estava por demais cansado de tantas batalhas, se fosse para mais uma não teria a menor chance...abaixa a cabeça sentindo o gosto do sangue escorrer pelos lábios, as feridas ardiam no peito e o coração numa aceleração descompassada denunciava o temor pelo que estava por vir. De súbito sentiu a pata gigante do felino contra o peito, mas não fora um golpe, mas sim o rei das feras estava aquietando a alma do guerreiro...era possível sentir a energia daquele ser fluindo através de suas garras e incendiando o coração e a alma do bravo que agora entregue sentia suas feridas sendo tratadas.
Como parte que acabara de ser separada também sinto meu peito arder e o calor e a fumaça envolver meu corpo ao mesmo tempo em que o Leão envolvia o guerreiro com sua energia, com fogo, com fumaça...A cena que se vê é chocante, o guerreiro se dobra e retorce, amparado pelo Leão não cai, é possível sentir sua dor...de repente um silêncio, o guerreiro abre o peitoral de suas vestes e de seu peito sai um vulto enegrecido que é esmagado pela pata do gigantesco felino.
Sem forças e sem o opoio da fera o guerreiro cai, no chão respira profudamente e com a pouca força que restou encolhe o corpo, curva-se e ergue a cabeça aos céus e num misto de alegria e dor solta um grito cujo eco deve ter sido ouvido por todo o universo...o Leão apenas o observa e do mesmo jeito que surgiu entre a fumaça se foi...
Um sorriso desvia a minha atenção e ao virar-me para o lado reparo novamente na imagem de uma sombra (talvez a mesma que tinha sumido antes do leão surgir penso) movendo-se como num bailado entre o fogo e fumaça. Embora a fumaça tenha atrapalhado num primeiro olhar, ao perceber a forma de um vestido, sei tratar-se de uma figura feminina. Corro para alcançá-la, entretanto sempre que penso chegar perto nada encontro a não ser fumaça que ilude e entorpece meus sentidos.
Meus ouvidos guiam minha perseguição, que segue a cadência de um bailado cuja música é esse sorrir feminino e delicado. Em minha última tentativa sem êxito vejo-a desaparecer entre o fogo e silêncio.
...
Nisto lembro do guerreiro, é preciso voltar para ver seu estado, me ponho a caminho mas eis que me deparo com uma rocha num tom diferente de todas as demais, talvez uma rocha calcárea, acinzentada, olho ao redor da mesma e vejo que é uma rocha especial, diferente de todas as que eu já vira na minha existência. Ao tocá-la com ambas as mãos me espanto ao sentir que contrastando com o clima quente e selvagem, ela é fria, quase gelada e com uma superfície aspera porém bem regular.
Todavia o espanto maior foi verificar que havia uma gravação numa lingua por mim desconhecida na parte inferior próximo a sua base, "- Talvez fosse a lingua dos anjos", cheguei a pensar...
Ouvir o som de batidas fortes em um tambor me faz lembrar e sentir que sou chamado até o guerreiro...corro o mais rápido que posso e para meu espanto ele esta deitado, mas não no chão mas suspenso no ar, sua espada está em pé também flutuando próximo a sua cabeça. Me aproximo e o observo...sua roupa antes suja e maltrapilha, esta reluzente e dourada, mal consigo ver as cicatrizes que haviam em seu corpo, resultantes de sua batalha, não há mais sangue em sua pele e sua face tranquila reflete que seu coração bate em paz.
Agora ao lado do guerreiro toco em seu peito, e ambos começamos a irradiar uma luz quenos envolve, sinto um calor e logo um fogo vermelho toma conta de mim, ardo sem me queimar e em poucos segundos viro uma fumaça branca e sou sugado para dentro do guerreiro...
Antes de ser totalmente sugado, olho ao redor...e para meu espanto não estou mais sozinho...há outras pessoas, com guias nos pescoços, charutos, velas, incenso...e o som do batuque deixa claro que estou agora numa gira...estou num terreiro...e minha última imagem é a de uma cigana dançando e acenando com um olhar e um sorriso doce para mim!
...
Não sou mais eu...e nem só o guerreiro é apenas o que era...somos dois...e agora somos um...apenas um...o que sempre fomos.
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E detrás das estrelas um leão surgiu, caminhou até a mim e ao meu lado sentou e sorriu!